Thursday, October 13, 2005


O Grupo Muzenza de Capoeira, foi fundado em 5 de Maio de 1972, na cidade do Rio de Janeiro, tendo como seu fundador, Paulo Sérgio da Silva (Mestre Paulão), oriundo do grupo Capoarte de Obaluaê, do Mestre Mintirinha (Luís Américo da Silva).
Em Outubro de 1975, chega a Curitiba - Paraná - Mestre Burguês (Antônio Carlos de Menezes), que depois de leccionar nos bairros do Méier de Madureira, no Rio de Janeiro, decide fundar mais um núcleo do Grupo Muzenza no Sul do Brasil, implantando e desenvolvendo uma metodologia e uma filosofia própria, voltada para as raízes da capoeira, tendo introduzido essa modalidade em clubes, quartéis, escolas, academias, comunidades carentes e comunidades negras.

Mais de 15.000 alunos, já passaram pelo Grupo Muzenza de Curitiba, e hoje o Grupo se faz presente em 25 estados brasileiros, e 23 países, buscando sempre os fundamentos e as raízes da capoeira através de muita pesquisa.

Desde 1975, o Grupo passou a ser presidido pelo Mestre Burguês.

"Capoeira é capoeira" para que você possa entender melhor essa definição deve vivê-la.


Legenda da Imagem:Direitos Reservados

Roda de capoeira do grupo Muzenza. Foto captada por Nuno Pinto

A alegria, ritmo e dança numa roda...palavras para quê? a imagem traduz toda a energia que sai de dentro dos "capoeiristas"..., numa foto captada por Nuno Pinto

Tuesday, October 11, 2005


A agilidade e o dinamismo corporal sempre notória numa roda de Capoeira
Legenda da imagem: Fotografia de uma roda de capoeira captada por Nuno Pinto

A CAPOEIRA



Dá-se o nome de Capoeira, a um jogo de destreza que tem as suas origens "remotas" em Angola. Era antes uma forma de luta muito valiosa na defesa da liberdade de fato ou de direito do negro liberto, mas tanto a repressão policial quanto as novas condições sociais fizeram com que, acerca de cem anos, se tornasse finalmente um jogo, uma vadiação entre amigos. Com esse carácter inocente, a capoeira permanece em todo o Mundo.

Tratava-se de um combate singular em que os "moleques de Sinhá", apenas demonstravam sua capacidade de ataque e defesa sem, contudo, atingir efectivamente os oponentes. Foi durante a escravidão que o jogo de Angola começou a crescer e chegou à maioridade no Brasil.

Ouviu-se falar de capoeira pela primeira vez, durante as invasões holandesas de 1624, quando os escravos e índios, (as duas primeiras vítimas da colonização), aproveitando-se da confusão gerada, fugiram para as matas.
Os negros criaram os Quilombos, entre os quais o mais famoso Palmares, cujo líder foi Zumbi, guerreiro e estrategista invencível diz a lenda, diz ter sido capoeira. Após esta época, houve um período obscuro e no renascimento do século XIX, transformou-se num fenómeno social, que tomou conta de centros urbanos como o Rio de Janeiro, Salvador e Recife.









Espalhavam-se pela cidade, acabando com festas, afastando a polícia, tirando a teima dos valentões... defendiam sua precária liberdade, ora empregando apenas agilidade muscular, ora tirando partido de cacetes de facas. A literatura de Machado de Assis e a arte de Debret, registravam a presença da capoeira nos costumes da época.

Os capoeiristas viviam em "maltas", verdadeiros bandos que recebiam apelidos como "guaiamus" ou "nagôs".

Manuel Querino, conta que muitos deles distinguiram-se por actos de bravura no campo de batalha. Quando lutavam entre si, o grito de guerra assustava os estranhos: "fêcha, fêcha!"
Significava o início da luta e ai de quem estivesse por perto.Consta que a guarda pessoal de José do Patrocínio e do próprio imperador de D. Pedro I, era formada por capoeiristas.

Esse prestígio começou a cair com as leis abolicionistas: sem aptidão de qualquer espécie, uma massa humana disputava mercados de trabalho inexistentes. O jogo corporificou-se como instituição perniciosa e sua extinção passou a ser a palavra de ordem.
Ainda assim, a capoeira mostrou a sua força: ao ser detido um de seus mais temíveis praticantes, o nobre português José Elísio dos Reis ( Juca Reis ), preso por Sampaio Ferraz.

O mais famoso dos capoeiristas nacionais era natural de Santo Amaro, na zona canavieira da Bahia, e tinha os apelidos de Besouro Venenoso e Mangangá.

A Ressurreição:

O decreto-lei 487, acabou temporariamente com a capoeira. Muitos de seus adeptos permaneceram exilados em São Paulo, no interior, participando de trabalhos forçados.

Mestre Bimba, é considerado o pai da capoeira moderna, não só por ter actuado decisivamente na libertação, mas também por ter sido o primeiro a dar-lhe uma didáctica e ensinar em recinto fechado. Mestre Bimba criou o estilo "Regional".

O estilo "Angola" teve em Vicente Joaquim Ferreira Pastinha, seu mais digno representante.

Hoje, a capoeira não é mais privilégio da Bahia ou do Rio de Janeiro, tendo-se espalhado por todo o Brasil com grande aceitação. Tornou-se um suporte competitivo, segundo a resolução do conselho Nacional de Desportos, em 1972.

No exterior já se praticava em mais de 60 países.

A música faz-se notar com grande influência na capoeira. Poucas são as lutas ou muito raras aquelas que tem suas evoluções marciais interligadas aos sons dos instrumentos.

A capoeira tem como seu conceito de arte marcial, afinidades que chegam quase a ser uma necessidade musical. Sons de percussão dando um ritmo ao corpo, que com as vibrações sonoras anima-se ao ponto tal que, estudiosos já aceitam que o som usado na capoeira, provoca reacções conscientes e inconscientes de força no capoeira.






A capoeira entrega o seu corpo e mente àquele som, com grande interpretação psicológica e expressão corporal. Juntos, os dois conseguem na capoeira, um resultado fascinante, onde a musicalidade é parte fundamental no conjunto da luta.

A música traz a uma roda de capoeira, muita força psicológica, uma união de todos aqueles que nela participam. Dessa união a força de pensamento interna de cada um traz uma emoção forte e vibrante aquela roda.

Em contra partida, uma mesma roda de capoeira sem música ou outro som, não desperta a mesma motivação, deixando seus participantes menos excitados e até mesmo desconcentrados.As letras das músicas, em sua maioria simples, falando dos escravos, das senzalas, da liberdade oprimida... mas se interpretadas com o sentimento que transmitem, muitas delas trazem alguma ou muita emoção a quem canta, e a quem ouve.

"Praticar capoeira, é uma das formas mais simples de expressar o desejo de ser livre nos movimentos, e de ser brasileiro de facto"


Legenda da Imagem:Roda de Capoeira numa cerimónia de graduação. Fotografia captada por Nuno Pinto

Monday, October 10, 2005


"Vem por aqui" – dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
Sei que não vou por aí.


José Régio


Legenda da imagem: Fotografia captada por Nuno Pinto na praia de S. Pedro de Moel