Tuesday, October 11, 2005


A CAPOEIRA



Dá-se o nome de Capoeira, a um jogo de destreza que tem as suas origens "remotas" em Angola. Era antes uma forma de luta muito valiosa na defesa da liberdade de fato ou de direito do negro liberto, mas tanto a repressão policial quanto as novas condições sociais fizeram com que, acerca de cem anos, se tornasse finalmente um jogo, uma vadiação entre amigos. Com esse carácter inocente, a capoeira permanece em todo o Mundo.

Tratava-se de um combate singular em que os "moleques de Sinhá", apenas demonstravam sua capacidade de ataque e defesa sem, contudo, atingir efectivamente os oponentes. Foi durante a escravidão que o jogo de Angola começou a crescer e chegou à maioridade no Brasil.

Ouviu-se falar de capoeira pela primeira vez, durante as invasões holandesas de 1624, quando os escravos e índios, (as duas primeiras vítimas da colonização), aproveitando-se da confusão gerada, fugiram para as matas.
Os negros criaram os Quilombos, entre os quais o mais famoso Palmares, cujo líder foi Zumbi, guerreiro e estrategista invencível diz a lenda, diz ter sido capoeira. Após esta época, houve um período obscuro e no renascimento do século XIX, transformou-se num fenómeno social, que tomou conta de centros urbanos como o Rio de Janeiro, Salvador e Recife.









Espalhavam-se pela cidade, acabando com festas, afastando a polícia, tirando a teima dos valentões... defendiam sua precária liberdade, ora empregando apenas agilidade muscular, ora tirando partido de cacetes de facas. A literatura de Machado de Assis e a arte de Debret, registravam a presença da capoeira nos costumes da época.

Os capoeiristas viviam em "maltas", verdadeiros bandos que recebiam apelidos como "guaiamus" ou "nagôs".

Manuel Querino, conta que muitos deles distinguiram-se por actos de bravura no campo de batalha. Quando lutavam entre si, o grito de guerra assustava os estranhos: "fêcha, fêcha!"
Significava o início da luta e ai de quem estivesse por perto.Consta que a guarda pessoal de José do Patrocínio e do próprio imperador de D. Pedro I, era formada por capoeiristas.

Esse prestígio começou a cair com as leis abolicionistas: sem aptidão de qualquer espécie, uma massa humana disputava mercados de trabalho inexistentes. O jogo corporificou-se como instituição perniciosa e sua extinção passou a ser a palavra de ordem.
Ainda assim, a capoeira mostrou a sua força: ao ser detido um de seus mais temíveis praticantes, o nobre português José Elísio dos Reis ( Juca Reis ), preso por Sampaio Ferraz.

O mais famoso dos capoeiristas nacionais era natural de Santo Amaro, na zona canavieira da Bahia, e tinha os apelidos de Besouro Venenoso e Mangangá.

A Ressurreição:

O decreto-lei 487, acabou temporariamente com a capoeira. Muitos de seus adeptos permaneceram exilados em São Paulo, no interior, participando de trabalhos forçados.

Mestre Bimba, é considerado o pai da capoeira moderna, não só por ter actuado decisivamente na libertação, mas também por ter sido o primeiro a dar-lhe uma didáctica e ensinar em recinto fechado. Mestre Bimba criou o estilo "Regional".

O estilo "Angola" teve em Vicente Joaquim Ferreira Pastinha, seu mais digno representante.

Hoje, a capoeira não é mais privilégio da Bahia ou do Rio de Janeiro, tendo-se espalhado por todo o Brasil com grande aceitação. Tornou-se um suporte competitivo, segundo a resolução do conselho Nacional de Desportos, em 1972.

No exterior já se praticava em mais de 60 países.

A música faz-se notar com grande influência na capoeira. Poucas são as lutas ou muito raras aquelas que tem suas evoluções marciais interligadas aos sons dos instrumentos.

A capoeira tem como seu conceito de arte marcial, afinidades que chegam quase a ser uma necessidade musical. Sons de percussão dando um ritmo ao corpo, que com as vibrações sonoras anima-se ao ponto tal que, estudiosos já aceitam que o som usado na capoeira, provoca reacções conscientes e inconscientes de força no capoeira.






A capoeira entrega o seu corpo e mente àquele som, com grande interpretação psicológica e expressão corporal. Juntos, os dois conseguem na capoeira, um resultado fascinante, onde a musicalidade é parte fundamental no conjunto da luta.

A música traz a uma roda de capoeira, muita força psicológica, uma união de todos aqueles que nela participam. Dessa união a força de pensamento interna de cada um traz uma emoção forte e vibrante aquela roda.

Em contra partida, uma mesma roda de capoeira sem música ou outro som, não desperta a mesma motivação, deixando seus participantes menos excitados e até mesmo desconcentrados.As letras das músicas, em sua maioria simples, falando dos escravos, das senzalas, da liberdade oprimida... mas se interpretadas com o sentimento que transmitem, muitas delas trazem alguma ou muita emoção a quem canta, e a quem ouve.

"Praticar capoeira, é uma das formas mais simples de expressar o desejo de ser livre nos movimentos, e de ser brasileiro de facto"


Legenda da Imagem:Roda de Capoeira numa cerimónia de graduação. Fotografia captada por Nuno Pinto