Friday, June 09, 2006


o sabor dos sabores
Miguel Castro Caldas com Arlete, António Aires, César Almeida, Jaime, José Moreira

Havia um rei que tinha três filhas e perguntou-lhes por onde é que elas lhe gostavam.
As duas mais velhas responderam, uma pela alma, outra pelo coração, e para escrever sobre os sem-abrigo é preciso ir viver com eles e sofrer o que eles sofrem.
Tu, Arlete, a mais nova, mas não a menos querida, diz-me por onde me queres.
Sou muito calada, disse ela, gosto mais de ouvir do que falar, e então o César, isto é, o César Almeida, o rei deste reino, que ao princípio estava a um canto a colar o selo do passe, só um minutinho, e só então é que se veio sentar no cadeirão, disse com a sua voz arrastada de rei: sempre é melhor a santa casa do que ir gastar sapatos na almirante reis, aqui como o meu amigo Aires.

António Aires, de Castro de Aire nasceu no monte ao sol. António Castro Daires não gostava de guardar porcos, e veio para lisboa no dia 17 de abril, ou 18. E não chegou a partir para França, onde a vida é cheia de bonança.

— Eu quero tanto ao meu pai como ao sabor dos sabores.

— O sabor dos sabores? — o pai não gostou nada desta resposta, porque entendeu que não era querer-lhe bem, então mandou Arlete para fora do reino.

Sempre é melhor a santa casa, apesar das lacunas que tem, do que ir gastar sapatos na almirante reis.
Pois, diz Castro Daires, eu andava o dia todo a subir e a descer a almirante reis, que sempre é melhor do que estar parado. E Então vem Jaime, a dizer que sempre é melhor estar parado do que ir trabalhar, porque quando a gente ganha dinheiro, somos postos fora do abrigo, mas o dinheiro não chega para alugar um quarto e comer ao mesmo tempo. Temos de escolher: ou comes ou quartas.
Fora do reino, Arlete foi oferecer-se para trabalhar num lar de idosos chamado câmara da morte. Lá, acordavam os velhos a meio da noite para fazer a cama, e alguns, por falta de espaço, eram postos a dormir no chão. Mas como Arlete era uma princesa, e isso fazia-lhe impressão, atirou-se à dona do lar e bateu-lhe bem, pegou nas coisas e foi-se embora. Ainda há-de vir um escritor a ir viver com os sem-abrigo para escrever um livro sobre eles, disse o zé, é preciso ir viver com eles e viver o que eles vivem. Mas um escritor escreve o que pode, disse eu,

disse eu pela primeira vez, um gajo escreve o que pode

ir para a rua e tapar-se de cartões, mas quem diz que depois vai escrever alguma coisa

pois é, disse o Zé, miséria é uma palavra estranha,

pedir às palavras que venham,

há a miséria que se vê e a miséria que se vem, o Camilo que não tinha reforma, escrevia, como norma, para viver, e quando ficou cegueta deu um tiro na cabeça para não passar fome, e eu conheço um homem que pegou na manta e foi para a rua para não ficar a dever nada a ninguém,

então Arlete, a linda princesa, fez um jantar maravilhoso.

E nós fomos almoçar. E a comida estava cheia do sabor;

Menos a do rei, menos a tua, que passas pela rua.

Arlete: és mesmo estúpido, então não vês que o sabor dos sabores é o sal? E qualquer dia vais ser tu, a pedir às pernas que passam por ti que não te ignorem.
Bendito louvado, conto acabado.

MEDIA
Poder ou contrapoder?

Ao longo dos últimos vinte anos tem vindo a estreitar-se a colaboração entre os agentes da globalização económica e dos meios de comunicação de massas.

A verdade é que os primeiros já não vivem sem os segundos, uma vez que a "revolução económica" com vista à formação de uma Aldeia Global, a favor da abertura de novos mercados onde quer que eles se encontrem, acelerou e se desenvolveu graças à revolução tecnológica nos meios de comunicação, com que interage de uma forma cada vez mais conivente e interdependente.

Uma parceria valiosa, dado que o enorme avanço tecnológico dos media, nomeadamente através da grande "auto-estrada" da comunicação que é a Internet, como alguém lhe chamou, permite fazer circular, a grande velocidade, uma diversidade e quantidade de informação nunca antes imaginada que, em poucos segundos, chega aos lugares mais longínquos do planeta.

Esta abundância de informação é preciosa para vender mais; para explorar mercados desconhecidos, e é nela que repousa a prosperidade crescente dos grupos económicos dominantes, que operam à escala planetária, a cujos interesses se subordinam a grande maioria dos media de todo o mundo, com prejuízo de critérios de isenção, justiça e ética, segundo críticos e observadores.

Que papel?

Tem sido precisamente ao serviço destes grupos, dizem alguns analistas, que se perdeu o espírito inicial da comunicação social. No mundo ocidental, civilizado e moderno, saturado de altas tecnologias, a "voz das pessoas sem voz", como o definiu o sociólogo espanhol Ignacio Ramonet, o "quarto poder" que é representado pelos media, está longe de ser o que era ou, pelo menos, de exercer as anteriores funções segundo os princípios em que se fundou.

É verdade que, durante décadas, foi uma força indispensável contra os abusos de poder, cabendo-lhe repor as verdades, dar voz às críticas, denunciar injustiças e revelar segredos incómodos. Durante muito tempo, a seu cargo esteve, em contextos democráticos, a regulação dos excessos dos poderes legislativo, executivo e judicial, naturalmente susceptíveis de errar, como sublinha o sociólogo espanhol.

E também é verdade que a sua intervenção é muitas vezes determinante nos regimes ditatoriais, em que a violação dos direitos fundamentais dos homens é prática comum, em que a informação é, por norma, pouco credível e em que poucos se atrevem a discordar da autoridade imposta, divulgando as suas opiniões ou denunciando violências e injustiças.

Não foram raros os jornalistas que pagaram com a vida a coragem das suas denúncias, como ainda acontece, por exemplo, nalguns países da América do Sul. Mas, entretanto, e muito depressa, muita coisa mudou. De tal forma que o papel de denúncia e defesa da justiça, a favor do bem comum, foi-se tornando progressivamente mais difuso, até chegar a um certo esvaziamento das funções principais do jornalismo. Para isso tem contribuído, em boa medida, a esmagadora quantidade de informação difundida graças à evolução tecnológica, que tem tornado o papel do "quarto poder" cada vez mais confuso, porque em causa estão cada vez mais confrontosde interesses, entre "o mercado e o Estado, entre o sector privado e os serviços públicos, entre o indivíduo e a sociedade, entre o íntimo e o colectivo, o egoísmo e a solidariedade", declara Ramonet.

Imagem e símbolos de poder.

Na dinâmica gerada pelos confrontos e interesses de que nos fala Ramonet e que domina as sociedades modernas, o poder da imagem foi crescendo e hoje é imenso. As imagens certas no momento certo "vendem" qualquer produto, económico, social ou político. E embora as imagens sugeridas pela escrita ou pelo som possam ter imensa força, como é visível na imprensa escrita ou radiofónica, não há veículo mais eficaz para a construção e difusão de uma determinada imagem do que a televisão.

A força e a eficácia destes meios leva a que o poder político, em particular, tenha vindo a procurá-los cada vez mais, no sentido de fazer chegar ao público imagens que o promova adequadamente. Sucesso e poder andam de mãos dadas, ou seja, um é consequência do outro e vice-versa. E ambos são tanto mais ambicionados quanto é certo vivermos numa sociedade profundamente narcísica, em que é muito comum a necessidade permanente de compensação para males bem mais profundos e sombrios, que se escondem, justamente, em certas personalidades particularmente "mediáticas".

Quanto maior é a descompensação, dizem os especialistas, maior é a apetência pelo poder e maior a dependência de difusão de um certo tipo de imagem. Daí a corrida aos media, numa permanente tentativa de sedução, frequentemente associada a símbolos de poder que muitos usam numa luta obsessiva pela visibilidade. Já não chega um "minuto" de fama. Querem todo o tempo de "antena" possível. Por isso, procuram-lhes os favores, e tentam todos os truques para "aparecer" e convencer o público. Hoje, toda esta dinâmica, diz o sociólogo francês Rémy Rieffel, "mudou as estratégias de comunicação", e sobretudo, acrescentamos, as "práticas políticas".

Contrapoder?

Como forma de oposição a este alarmante "envenenamento" da opinião pública pelas forças mediáticas "vendidas" a variados poderes, Ramonet insiste na possibilidade de se vir a criar um novo contrapoder uma vez que os media, particularmente a televisão, já não correspondem ao conceito inicial de mediadores de informação.

É preciso salvaguardar o que resta da liberdade e isenção iniciais, até porque essa mesma liberdade "não é mais do que uma extensão da liberdade colectiva de expressão, fundamento da democracia". Para isso, considera indispensável" desenvolver uma reflexão sobre a maneira como os cidadãos podem exigir aos media mais ética, ver-dade e respeito por uma deonto-logia que permita aos jornalistas agir em função da sua consciência e não em função dos interesses dos grupos financeiros, das empresas e dos patrões que os empregam".

Este seria o quinto poder, o dos cidadãos responsáveis e elucidados sobre o mundo e as questões que os rodeiam. E uma tentativa de acabar com toda "a espécie de imposturas, boatos, deformações, distorções, manipulações". Por outro lado, Rieffel declara que "não há ditadura dos media", mas sim uma ditadura as audiências. E uma forte influência sobre os políticos que, entretanto, têm vindo a mudar o seu comportamento, apostando na construção e veiculação de determinadas imagens, tudo isto evidenciado pelas próprias características do "tempo mediático": curto, emero, directo e instantâneo, segundo as suas palavras. "É uma lógica que leva ao espectáculo ", em suma.

Educação e profissionalismo.

Grande parte da aposta do sociólogo francês para ultrapassar a " lógica do espectáculo" mediático e tentar anular os seus efeitos mais negativos assenta na necessidade de se fazer, junto dos jovens, "uma educação para os media", ou seja, Rieffel clama pela urgência de educarmos os nossos filhos o sentido de os ensinar a "descodificar a imagem" como ela se apresenta aos nossos olhos. É preciso levá-los a perceber que nem tudo o que vêem é verdade, que existem montagens da realidade e, sobretudo, fazê-los tomar consciência das dinâmicas escondidas inerentes à promoção pessoal.

É preciso desenvolver nos mais novos o sentido crítico e o distanciamento que lhes permita olhar para lá das aparências.

Outra aposta é a da formação dos jornalistas. Nela, Rieffel coloca a sua maior esperança, defendendo que" um jornalista é tanto mais competente quanto melhor compreende o assunto sobre que fala". O que joga a favor de uma atitude cada vez mais profissional, sempre na tentativa de informar com justiça e imparcialidade, tendo em coma uma série de princípios.


Texto de Ana Vieira de Castro
Design
Antes manipulador que manipulado

Nos livros que cria, Luís Miguel Castro joga com os textos e com as imagens. E nunca à defesa As imagens televisivas entravam-lhe por ali adentro sem pedir licença.

Luís Miguel Castro, nascido há 50 anos em Guimarães, reparou que andava a perder demasiado tempo com elas – e vai daí, acabou com a televisão em casa. Desde então, não só passou a dedicar-se mais aos livros como até anda entretido com a ideia de procurar palavras em dicionários e enciclopédias.

Quanto melhor leitor for, melhor designer será, acredita Luís Miguel Castro, que agora assegura a concepção artística dos títulos publicados pela nova editora Guerra e Paz.

Antigo director de arte da Marie Claire e da Kapa, Luís Miguel Castro sempre quis que o seu trabalho revelasse uma opinião: «Não é paginar às cegas, mas sim em função de um texto, seja ele jornalístico ou literário».

Foi assim nas revistas, nos catálogos e nos livros criados, ao longo de três décadas, por aquele a quem já chamaram «o» mestre. Quase sempre à mão, recorrendo às colagens, fotografias e pinturas sobrepostas, dispensando não raras vezes as inúmeras possibilidades de um computador.

«O ecrã ainda não é a forma. Não é igual ver uma coisa no ecrã e vê-la no papel. E não sei se, algum dia, virá a ser», defende Luís Miguel. Talvez, por isso, o também designer Jorge Silva comente que, hoje, o vê sobretudo como «uma espécie de artesão».

Cinema
O filme da treta.

Depois do palco, da televisão, da rádio e do livro... Toni e Zezé, os tugas de Conversa da Treta, chegam ao cinema.

As festas populares de Santo António parecem ter chegado mais cedo ao bairro lisboeta da Bica. No Largo de Santo Antoninho há balões de papel e fitas coloridas presos nos candeeiros e nas árvores que fazem sombra sobre as mesas de toalhas aos quadrados. Em vez das habituais sardinhas assadas, há restos de laranja e sobras de feijoada, deixadas em malgas e pratos de barro castanho.

Não fossem os enormes projectores, os reflectores brancos e pretos, a câmara de filmar e o rebuliço que ali se instalou de repente e nem se perceberia que a Bica tinha dado lugar ao Bairro da Ladroa e as festas de Santo António à Feijoada Anual. Onde antes estava uma fonte, existe agora uma estátua a «El Infante D. Fuas Bogalho, ‘o atrofiado’», um distinto cavalheiro de chapéu e capa vagamente parecido com o actor José Pedro Gomes, em cima de um burro com enormes orelhas e as feições de António Feio.

É o cenário de uma das cenas de Conversa da Treta – O Filme, que promete levar os famosos tugas Zezé e Toni às salas de cinema portuguesas, a partir de Outubro.

«Procuramos o mesmo impacto que tivemos no teatro, na televisão e na rádio», afirma António Feio, acrescentando que «o grande objectivo é levar mais gente ao cinema». Para José Pedro Gomes, «o cinema é a forma de perpetuar o trabalho – o teatro é efémero, a televisão é consumida com rapidez, o cinema é o que fica para o futuro».

O filme (realizado por José Sacramento, com argumento de Filipe Homem Fonseca e Eduardo Madeira) não tem qualquer financiamento público, o que não impediu o produtor Leonel Vieira de levar a sua ideia em frente, tentando recuperar o espírito perdido do cinema de comédia português.

Wednesday, February 01, 2006


Os sinuosos caminhos da comiseração


Com as suas infinitas variações, o comportamento humano é frequentemente um enigma. E, se pensarmos bem, chega a ser desconcertante a forma como, irreflectidamente, nos deixamos levar pela tendência para sentirmos dó, pena de alguém que, por esta ou aquela razão, se encontra numa situação adversa.

Este é um sentimento que pode ser muito empobrecedor no sentido em que implica acreditarmos e aceitarmos que o outro não tem ou não teve a prerrogativa de pegar nas rédeas da própria vida, construindo-a com responsabilidade a partir das suas escolhas pessoais. Mas porventura muito pior do que sentirmos pena dos outros é sentirmos pena de nós mesmos.

Chega a ser deprimente a forma como alguns de nós contraem o mal do “coitadinho”, dispondo-se a viver como vítimas, chamando destino ás asneiras cometidas, coleccionando lamúrias e amarguras. Esta síndrome, que geralmente está associada a uma baixa auto-estima, é muito mais comum do que se possamos imaginar.

Na opinião dos especialistas, o que torna difícil combatermos este comportamentos é o facto de as supostas vitimas se comprazerem com a própria condição, ou seja sentirem uma doce indulgência para com as suas dores, o que acaba por se traduzir em muitas circunstancias, numa perversa massagem ao ego. Considerarem-se á mercê de um destino incontrolado, desprotegidas, abandonadas por todos é a única forma de abrirem a atenção dos que a rodeiam. Não é fácil convivermos com os coitadinhos, mas é necessário aprendermos a fazê-lo, pois nos tempos que correm esta síndrome é praticamente epidémica.

Limites humanos.

É curioso constatarmos que muitos de nós comunicamos mais facilmente quando o assunto é problema, doença, desfeita, infortúnio, o que acaba necessariamente por contribuir para a desesperança geral.

Não podemos deixar de ter consciência de que isto concorre para um clima de pessimismo bastante prejudicial, que facilmente nos leva a resignação e ao “deixa andar”.
Claro que, mesmo para quem tem um temperamento equilibrado há momentos em que parece que o céu vai cair em cima da cabeça em que tudo corre mal sem aparente explicação: o esforço não reconhecido no trabalho, os filhos têm más notas na escola, falta o dinheiro ao fim do mês, o clube de eleição continua a perder, o petróleo a subir, em casa um rol de queixas e reclamações e por ai adiante. Normalmente são fases, aquilo que chamamos os altos e baixos da vida. E perante alguns problemas graves, nada mais natural do que ficarmos abatidos, reagirmos com tristeza, que o tempo vai atenuando e que não equivale como muitos pretendem a um estado de depressão.

Mas, se repararmos bem, ultimamente ninguém tem o direito de incomodar os outros com a sua silenciosa tristeza. Basta olharmos para os programas de televisão ou para os anúncios de publicidade para verificarmos que as pessoas alegres, bonitas e divertidas, como se só houvesse espaço para essa alegria de plástico. A tristeza entrou na lista dos sentimentos politicamente incorrectos já que, afinal de contas, se pode resolver uma dose diária de Prozac ou de qualquer outra panaceia.

De facto, neste clima de pressão, de riscos e de concorrência, é preciso conhecermos os nossos limites e as nossas fraquezas, fazermos uma ideia de quem somos e do que queremos para não nos deixarmos desmoronar. E convém termos cuidado para não substituirmos os “modestos” sentimentos de tristeza, preocupação, incómodo e fragilidade, pelas muito mais latinas e dramáticas emoções de ansiedade, depressão, culpa e auto comiseração.

Demasiado sério.

Enquanto a característica da infância é o seu inevitável egoísmo, o elemento próprio da maturidade é o sentido de responsabilidade. A conduta deixa de se guiar apenas pelos instintos para abrir espaço à razão e às exigências que a vida impõe. E, portanto, o egoísmo num adulto não deixa de ser um desajustamento da personalidade em que o corpo amadureceu mas o espírito não. Neste sentido, os terapeutas sustentam que o nosso real inimigo é esse tipo de carinho, de desvelo por nós mesmos, em que tudo gira em função do ego, e a realidade é vista através do espelho deformado da auto compaixão: “que mal fiz eu?”, “por que é que isto só me acontece a mim?” São estes pensamentos perante uma dificuldade que geram infelicidade, e que podem resvalar na “vitimização”, um caminho que facilmente nos conduz à alienação de nós próprios.

No que diz respeito à condução da nossa existência podemos de facto iludir-nos de múltiplas formas. Levamo-nos demasiado a sério e daí resulta uma série de consequências desagradáveis para nós e para os que connosco convivem. Vendo bem, não é raro que uma frase ou um gesto de outra pessoa aparentemente inócuos, ganhem aos nossos olhos o tom de uma ofensa. Somos doentiamente sensíveis neste ponto: se alguém se cruza connosco e não nos cumprimenta com o sorriso que esperávamos, logo deduzimos que não nos está a dar a atenção que julgamos merecer; se discordam de nós neste ou naquele assunto, facilmente somos levados a colocar essa atitude num plano de afronta pessoal; e se esquecem de uma coisa que tínhamos pedido, ou se não dão total atenção às nossas palavras, ficamos com essas ofensas cá dentro, na forma de rancores e ressentimentos.

Falta-nos, porventura, o sentido de humor, a capacidade de ironizar e de sorrir da própria imagem, de distinguir o essencial do acessório, de relativizar os erros e as fraquezas do comportamento humano. O que não é nada fácil, diga-se de passagem. Contudo, cultivar esta atitude é um sinal de inteligência e lucidez. Permite-nos porventura conviver melhor com os riscos, incertezas e conflitos, combater o egocentrismo, preservar o equilíbrio psicológico e os laços de convivência.

Liberdade e responsabilidade.

Os especialistas em comportamento defendem que o passo fundamental para a conquista da liberdade interior passa por assumirmos que não somos escravos das circunstâncias, e que, com maior ou menor margem de manobra temos capacidade para fazer opções. Esta é, afinal, a eterna questão do livre-arbitrio que tem sido pensada desde os tempos imemoriais.

Na verdade, se não tivéssemos liberdade de escolha seria difícil compreender como poderíamos ser responsáveis por aquilo que fazemos, isto é, não haveria justificação para nos censurarem quando erramos, nem para nos elogiarem e recompensarem quando fazemos algo digno de mérito.

Temos de facto alternativas, e quanto maior for o grau de consciência pessoal, mais facilidade teremos em perceber as razões que nos levam a agir desta ou daquela maneira, o que nos oprime e nos tolhe a vontade.

Sobre o mérito desta última, Friedrich Schiller, poeta, dramaturgo do séc. XVIII escreveu o seguinte:”É a vontade que faz o homem grande ou pequeno”.

Na verdade, uma vontade firme a alavanca que move obstáculos que levanta o fardo da rotina quotidiana, esse peso que tantas vezes nos impele para baixo. Esta força libertadora, fruto da reflexão e da autodeterminação pode levar-nos a rever referências, abrir-nos novas perspectivas e tornar-nos mais receptivos à mudança.


Texto de: Cláudia Freitas

Monday, January 23, 2006

Cavaco à primeira
Nuno Silva e Pinto




Os portugueses elegeram, no passado dia 22, Aníbal Cavaco Silva para Presidente da República.A sua vitória já era esperada, como as sondagens tinham vindo a demonstrar e a projecção realizada pelos órgãos da comunicação social, às 20h, apontava para a vitória absoluta de Cavaco Silva na corrida a Belém.

O professor ganhou com 50,59% e exceptuando o distrito de Beja, em que Jerónimo de Sousa passou à frente com uns escassos 157 votos, todos os outros distritos garantiram a vitória a Cavaco Silva.

Os apoiantes do novo Presidente da República só às 22h é o que o puderam ouvir. Cavaco até essa hora permaneceu em casa a aguardar a divulgação dos resultados, num ambiente mais familiar.

Numa declaração no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, o candidato agradeceu os votos, saudou os adversários políticos e prometeu estar atento a todas as necessidades dos cidadãos. "Neste exacto momento se dissolve a maioria que me elegeu. Quero ser e serei o Presidente de todos os portugueses", afirmou o novo presidente.Cavaco Silva prometeu também, tal como tinha vindo a afirmar durante sua a campanha, que iria cooperar com o Governo e os restantes órgãos de soberania. "De mim o Governo legítimo de Portugal, como os demais órgãos de soberania podem esperar um espírito leal, de respeito, de cooperação e entreajuda", afirmou.

Manuel Alegre, com 20,72%, ganhou a Mário Soares, que com apenas 14,34% dos votos, assumiu a derrota com fair-play democrático: "Assumo a derrota com sentido do dever cumprido, fair-play democrático e sentido de responsabilidade".Jerónimo de Sousa seguiu-se, com 8,59%, Francisco Louçã, com 5,31% e por fim, Garcia Pereira, com 0,44%, dos votos desta campanha eleitoral.

Aníbal Cavaco Silva é assim o primeiro Presidente da República de direita desde o 25 de Abril.

Friday, January 20, 2006


Cavaco Silva confia na investigação para o desenvolvimento tecnológico do país.



Nuno Silva e Pinto

Cavaco Silva com uma bela guitarra portuguesa oferecida pelos jovens de Coimbra

Cavaco Silva foi recebido em Coimbra, no passado dia 18, numa euforia total entre os seus apoiantes.

Num jantar - comício com cerca de quatro mil pessoas, o candidato presidencial sentiu-se "surpreendido e orgulhoso" por observar na Universidade de Coimbra a investigação aplicada a fim de um "desenvolvimento tecnológico, com a excelência, factores decisivos para um país mais competitivo, mais inovador e mais moderno".

Cavaco fez um discurso virado para o desenvolvimento económico e consequentemente num desenvolvimento social, que possa oferecer aos portugueses mais emprego e justiça social.

O elogio à Universidade é de realçar mas o candidato afirma que "não podemos esquecer o interior deste distrito de Coimbra" salientando ainda que "a coesão nacional só se consegue quando os concelhos do interior podem aproveitar as suas potencialidades em plenitude."

Um pavilhão repleto de apoiantes, numa salva de palmas, levantou-se para saudar Cavaco quando o candidato cheio de firmeza e elevando o tom de voz referiu:"A meta está à vista e eu quero que o pelotão chegue lá unido e solidário."

Neste jantar estiveram presentes para demonstrar o seu apoio a Cavaco Silva, o Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Carlos Encarnação, Manuela Ferreira Leite e o Mandatário pela campanha em Coimbra o cirurgião Manuel Antunes.

Sunday, January 15, 2006


Bibliocafés dinamizam leitura em Miranda do Corvo
Nuno Silva e Pinto
Foram instaladas pequenas bibliotecas em vários cafés de Miranda do Corvo, com o objectivo de promover os hábitos de leitura. A iniciativa partiu da própria Câmara Municipal, através da Biblioteca Municipal com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.

Cada uma destas bibliotecas terá cerca de 50 livros com especial ênfase na literatura portuguesa e estrangeira. Para além de estar prevista a renovação mensal dos livros existentes, haverá também lugar para a realização de actividades de índole cultural, nomeadamente recitais de poesia, pequenas dramatizações, encontros com autores e debates.

Saturday, January 14, 2006


Mário Soares critica
Procurador - Geral da República

Nuno Silva e Pinto

Mário Soares criticou ontem à noite em Coimbra, o Procurador - Geral pelo facto de não ter dado as devidas respostas quando confrontado com a publicação de uma lista de personalidades, incluindo o próprio Soares, que estiveram com o telefone sob escuta policial, no âmbito do processo Casa Pia.

"Existe ou não existe lista? Existiram ou não existiram fugas de informação? Houve ou não houve escutas telefónicas?", questionou o candidato presidencial, apesar de Souto Moura (PGR) ter afirmado que a notícia era falsa.


"Não exagero quando digo que estamos a viver uma crise nacional séria. O que me preocupa não é tanto a crise económica. Mais grave é a crise moral, a crise instituicional e a crise política e é espantoso que um jornal revele o que já se sabia à boca pequena: que há escutas telefónicas ilegais."

"Coimbra, cidade do conhecimento" acolheu ontem Mário Soares, no pavilhão ACIC, na Relvinha, com o maior comício que o candidato teve até à data que contou com cerca de 2500 apoiantes.

O candidato presidencial alertou também para o "desprezo social" que identifica o "cavaquismo" e continuou a criticar o passado de Cavaco Silva enquanto líder governamental.

A comunicação social também não escapou ás críticas de Soares, acusando estes de não terem imparcialidade, favorecendo Cavaco. "É indispensável que se faça luz sobre o que se está a passar, senão, e não querendo ser alarmista, a nossa democracia está em perigo."
Desvalorizou as sondagens, que dão a vitória à Direita, dizendo que o que realmente conta são os votos do povo e é cada vez mais em contacto com as pessoas, nos diferentes sítios por onde tem passado, que encontra a certeza da sua vitória no próximo dia 22, afirma mesmo que está convicto que vai haver "uma grande surpresa".

Mário Soares elogiou Coimbra dizendo "ser uma lição", tal como Jorge Coelho, que disse ter sido a "lição de espirito, luta e combate", acusando Cavaco Silva de "arrogância, prepotência e autismo"
Participaram também neste jantar o director distrital da campanha, Fausto Correia, a mandatária para a juventude, Joana Amaral Dias, Almeida Santos e ainda houve lugar para uma mensagem gravada de José Sócrates.







Wednesday, January 11, 2006

"Talvez a imagem mais nítida do planalto da Terra Quente Transmontana possa ser dada pelos versos de Miguel Torga (in Diário I, 1941): "A vida é feita de nadas: / De grandes serras paradas / À espera de movimento; / De searas onduladas / pelo vento". "


Nuno Silva e Pinto


Rio Tua


"Eleja-se como lugar de partida para a Terra Quente a confluência do Tua com o Douro. Só por si, o local é digno. Os rios encaixam-se entre escarpas xistosas e de socalcos percorridos, nestas alturas do ano, por linhas verdes do folhame das vinhas."



Nuno Silva e Pinto
Vale do Tua


"Na estação do caminho de ferro - no final do século XIX, a linha do Tua assegurava a única ligação rápida ao resto do planeta - os barrotes castanhos de assentamento da linha acentuam as tonalidades predominantes."


Nuno Silva e Pinto

Estação do Tua


Nuno Silva e Pinto

Comboio da Linha do Tua

Nuno Silva e Pinto

Comboio na estação do Tua

Concerto de Ano Novo da Filarmónica Pombalense é aplaudido com "casa cheia"


Nuno Silva e Pinto

Academia de Bailado de Coimbra num espectáculo repleto de cor e música


O Teatro - Cine de Pombal foi palco para mais um concerto de Ano Novo da Filarmónica Artística Pombalense, em que estiveram dezenas de pessoas a aplaudir de pé, esta iniciativa e todo o espectáculo apresentado.
A Filarmónica de Pombal apresentou vários temas musicais com a participação da Academia Bailado de Coimbra, do Coral Municipal Marquês de Pombal, da Filarmónica Artística Pombalense, e com a estreia dos alunos da Escola de Música da Filarmónica Infantil de Pombal.
"Tornar os espectáculos mais apelativos para o público com esta interacção de grupos musicais e de dança, é uma das prioridades da direcção desta colectividade", afirma António Barros, presidente da associação.
Esta direcção tem apostado como base, a inovação e o querer conquistar novos e jovens talentos capazes de trazer sangue-novo à Filarmónica:“Quisemos demonstrar as capacidades e o empenho destes jovens pela música”.
Assim justifica-se cada vez mais a urgência na construção de infra-estruturas capazes de albergar e de ofereçer condições a estes jovens, para um melhor e proveitoso ensino da música.
A data prevista para a inauguração das novas instalações está agendada para Julho.